A arte do grafite

 

  O vestígio mais fascinante deixado pelo homem através dos tempos em sua passagem pelo planeta foi, sem duvida, a produção artística. Não se sabe exatamente o que levou o homem das cavernas a fazer essas pinturas, mas o importante é que desde os mais remotos tempos, eles já  possuíam uma linguagem simbólica própria. Nessa época, os materiais utilizados eram terras de diferentes tonalidades, sucos de plantas, ossos misturados com água e gordura de animais. Hoje, usam-se tintas em spray e pintam-se idéias, signos e ponto de vista que passam a compor o visual urbano. 

Em Joinville, o estudante Paulo Agostini (21) utiliza as paredes e os muros da cidade como tela e cavalete e deixa impressa toda sua arte e opinião. O estudante é hoje, um dos vários grafiteiros da cidade que enxergam no grafite uma forma de expressar valores e reivindicar direitos. Mais conhecido como Paulo Pincel, o jovem recebeu o apelido no início de seus trabalhos, quando o grafite ainda lhe era uma novidade. Paulo desenvolvia seus grafites com tintas em spray e as retocava com pincéis, o que não era visto com bons olhos por outros grafiteiros. O que era para ser uma provocação, porém, passou a ser a marca registrada dos trabalhos do jovem. Atualmente, Paulo utiliza a técnica do estêncil aprendida em uma matéria da faculdade de Design. A técnica consiste em fazer moldes dos desenhos (alguns de até quatro metros de altura), prega-los na parede e depois passar o spray de tinta. Essa técnica ainda é pouco difundida no Brasil e mais utilizada em outros países como o Chile, a Argentina e o Uruguai. 

Grafite feito com técnica de estêncil

 

A prática do grafite que antes era considerada um crime com pena de seis meses a um ano de detenção e mais multa, agora é legal desde que respeite à Lei 9.605/1998 , Artigo 65:

§ 2o  Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.

Já a pichação continua sendo considerada um crime com a mesma pena que anteriormente era sancionada aos grafiteiros. Além disso a venda de tintas em aerosol continua sendo proibida à menores de 18 anos. Paulo ressalta que há uma grande diferença entre o grafite e a pichação. “A pichação serve apenas para você divulgar seu nome, como se fosse uma marcação de território, mesmo. Já o grafite existe para expor opiniões e passar uma mensagem à população”.  O estudante J.R.R. (19) é pichador há dois anos e continua deixando suas “assinaturas” pela cidade. “Entendo que é errado, já tive que fugir diversas vezes da polícia para não ser preso”, conta. J. diz que não gosta muito de grafitar e nem tem talento para isso, então sua fixação é só ver suas assinaturas espalhadas pela cidade. “Para mim, é um prazer ver meu apelido no ponto mais alto de um prédio ou no canto mais difícil de se alcançar”, confessa.

Pichação com várias "assinaturas"

 

Os primeiros trabalhos de Paulo Pincel começaram há três anos. De inicio o jovem conta que havia muito preconceito com o seu trabalho, pois a sociedade encarava o grafite como vandalismo e não conseguia fazer a distinção entre este e a pichação. “Preconceito sempre existe, porque tudo que é novo nos é considerado estranho. Hoje esse preconceito diminuiu bastante, as pessoas elogiam, reconhecem nosso trabalho. Até encontros de grafiteiros existem, como por exemplo, o ‘encontro das ruas’ que acontece na época do Festival de Dança”.

Depois que se formar em design o grafiteiro pretende fazer um documentário sobre seu trabalho e sobre outros tipos de arte urbana. “Quero dar oficinas e ensinar a todo mundo minhas técnicas para cada um passar sua mensagem e modificar o cotidiano das pessoas. Quero deixar a cidade colorida”, afirma.

Grafite feito com técnica de estêncil


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